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Radiocirurgia: tratamento minimamente invasivo para lesões cerebrais

A ideia de fazer uma cirurgia neurológica nem sempre é encarada com bons olhos, uma vez que os procedimentos costumam ser invasivos e com pós-operatórios desconfortáveis. Uma nova técnica que está disponível no mercado paraibano há pouco mais de um ano pode resolver esse problema: a radiocirurgia, um procedimento que promete redução do tempo, conforto e precisão no tratamento de lesões cerebrais.

            Na Paraíba, a técnica está sendo oferecida pela primeira vez na Oncovida Especialidades, clínica que tem como carros-chefes tratamentos que utilizam tecnologias de ponta em oncologia, neurologia e em outras áreas médicas.

O Agility é o equipamento responsável pelo procedimento, hoje considerado referência em todo o mundo no tratamento das lesões cerebrais, sobretudo pela praticidade e conforto dado ao paciente. 

            O neurocirurgião Emerson Magno de Andrade, especialista da Oncovida em neurocirurgia funcional e radiocirurgia, explica como funciona o equipamento. “É um tratamento que utiliza radiação de forma altamente precisa e localizada que os aparelhos convencionais da radioterapia, permitindo tratar tumores e outras patologias cerebrais de forma pouco invasiva”, disse.

            No tratamento da metástase cerebral, por exemplo, ao contrário da cirurgia convencional, a radiocirurgia não envolve abertura de crânio. Assim, o procedimento é mais seguro e rápido, durando entre 15 e 40 minutos. Após a realização da técnica, o paciente já está liberado para retornar à sua casa.

As cirurgias convencionais, ao contrário, duram entre 3 e 4 horas, envolve anestesia geral, e o paciente precisa ficar em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e durante algum tempo na enfermaria para observação, após o procedimento.

Na avaliação do neurocirurgião da Oncovida, este cenário leva a crer que a radiocirurgia representa a modernidade para tratamento e procedimentos neurológicos. “Quanto menos tempo o paciente fica em um hospital, melhor. A radiocirurgia não envolve internação e os estudos mostram que é tão eficaz quanto a cirurgia convencional para determinados tipos de tumores cerebrais, além de ser menos invasiva e mais confortável para o paciente”, disse Emerson Magno de Andrade.

O procedimento é indicado para tumores cerebrais malignos, tumores cerebrais benignos, malformações arteriovenosas cerebrais, e doenças funcionais como Parkinson e Neuralgia do trigêmeo. Também pode ser utilizada para o tratamento de patologias na coluna vertebral, fígado e pulmão.

Sobre os possíveis efeitos colaterais da exposição à radiação, o médico afirma que os procedimentos atuais são bastante seguros. “Não dá para comparar o que temos hoje com o que era feito no passado. Hoje temos uma maior precisão e é possível tratar somente a lesão, poupando o tecido cerebral saudável. No passado isso não era possível, o que acabava aumento o risco de efeitos colaterais”, disse o neurocirurgião Emerson Magno.

 

Entrevista: Dr. Emerson Magno de Andrade, especialista em neurocirurgia funcional e doutor pela USP.

Este tipo de procedimento é pioneiro no Estado?

O Agility é único na Paraíba, o que coloca nosso estado na vanguarda dos tratamentos neurológicos. Até então a radiocirurgia somente era realizada em grandes centros como São Paulo, Minas Gerais e Paraná.

Qual o diferencial do aparelho de radiocirurgiautilizado na Paraíba?

O Agility é um aparelho de radiocirurgia produzido pela empresa sueca Elekta, que é reconhecida internacionalmentepelo pioneirismo no desenvolvimento de tecnologias de tratamento para o câncer e na área de neurociências. A vantagem desse aparelho envolve o uso de um sistema com 160 lâminas de 5mm que se movimentam de forma rápida e precisa, permitindo modular o feixe da radiação de acordo com formato da lesão a ser tratada. Outra tecnologia envolvida é o IGRT, um sistema de imagem que funciona como guia durante o tratamento, e garante o posicionamento adequado do paciente e a proteção de estruturas importantes. Além disso, o paciente é imobilizado durante o tratamento utilizando uma máscara de plástico que é moldada no formato do seu rosto, dispensando dessa forma o uso de pinos para fixação do crânio que são desconfortáveis

Isso garante conforto, mas também mais precisão?

Exatamente. Comparando com a radioterapia convencional, a radiocirurgia não expõe o cérebro saudável do paciente à radiação. Apenas o localque será tratado é exposto a radiação, com uma precisão de poucos milímetros. Isso evita efeitos colaterais da exposição do cérebro saudável a radiação como alteração na memória e cognição. Em relação à cirurgia convencional, na radiocirurgia não há incisão na pele e nem abertura do crânio, não precisa de internação hospitalar, não envolve o uso de anestesia geral e não necessita de pós-operatório na UTI. Após o tratamento o paciente vai para casa e depois de dois dias pode voltar para as suas atividades e ter uma vida normal.  Então temos como vantagens importantes: tratar tumores e outras patologias sem danificar o tecido cerebral saudável e com conforto para o paciente.

No caso, esse tipo de conforto traz melhores respostas ao tratamento?

Sim. Após realizar o procedimento, em geral, o paciente realiza acompanhamento no consultório em intervalos regulares para acompanharmos suas respostas ao tratamento. O que percebemos é que, quando a pessoa sabe que vai fazer um tratamento onde não há dor envolvida, ele tem uma recuperação muito melhor. Ele fica mais tranquilo tanto antes quanto depois do procedimento, porque quando você pensa em fazer uma cirurgia convencional, por exemplo, já tende a ficar ansioso e nervoso por ser um procedimento invasivo e muitas vezes sentir dor. Na radiocirurgia não, ele sabe que terá o tratamento adequado, preciso e sem desconforto, afora o menor risco por não envolver cirurgia.

Tratar sem dor: seria este o futuro dos procedimentos neurológicos?

A ideia da radiocirurgia surgiu de um neurocirurgião sueco chamado Lars Leksell, na década de 50. Ele tinha como objetivo tratar lesões cerebrais sem fazer abertura do crânio, e para isso desenvolveu um sistema onde era possível localizar precisamente qualquer alvo no cérebro utilizando coordenadas geométricas. Com esse sistema, chamado de estereotaxia, foi possível localizar um ponto único no cérebro e tratá-lo utilizando radiação. Este foi o ponto inicial da tecnologia que usamos hoje. Quando pensamos no futuro, pensamos em tratamento cada vez menos invasivos, mas ao mesmo tempo mais precisos. No campo da neurorocirugia,a radiocirurgia pode ser um caminho, porque há menos riscos e permite que o paciente tratado de um tumor cerebral, por exemplo, consigalevarsua vida normal imediatamente após o tratamento. Então podemos dizer que nosso futuro já é o presente.

Quais profissionais estão envolvidos na realização do procedimento?

Além do neurocirurgião com especialização em radiocirurgia, dos radioterapeutas e dos físicos, o tratamento conta com o auxílio da enfermagem e técnicos.

Para finalizar, quais doenças são tratadas com a radiocirurgia?

É importante frisar que todos os casos são discutidos pela equipe composta de neurocirurgião, radioterapeutas e físicos, e somente após análise saberemos se aquele paciente está apto e o tratamento é indicado. Geralmente utilizamos a radiocirurgia para lesões cerebrais benignas, como adenomas da hipófise, neurinomas do acústico, meningiomas, mas também em tumores malignos cerebrais, como metástases cerebrais e gliomas. Além dessas patologias, pode também ser utilizado para o tratamentode malformações arteriovenosas cerebrais (MAVs), cavernomas, doença de Parkinson, neuralgia do trigêmeo e tumores localizados no fígado e pulmão.

Fonte: Jornal Correio da Paraiba (impresso), 18 de novembro de 2017